sábado, 10 de dezembro de 2011

O homem que só namorava coloradas


O homem que só namorava coloradas

Não que fosse uma preferência daquele gremista, mas, acreditem ou não, era esta a sua sina: só conseguia namorar coloradas!
A guria estava a fim dele, nem precisava perguntar pra que time ela torcia: era pro Inter! A guria não demonstrava interesse, não tinha erro: era gremista. Alias, nunca conseguiu transar com uma gremista! Podia ser a mais feia, carente ou encalhada. Não tinha jeito, pra ele nem pagando. Coisa incrível de acreditar! Mas era verdade.
Não que tivesse porque reclamar, pois teve muitas coloradas maravilhosas em seu currículo. Morenas, loiras, negras, ruivas, até uma nissei colorada ele traçou. Mas gremista, nada.
As grandes transas de sua vida, todas com vermelinhas incondicionais.
Os grandes amores de sua vida, aquelas mulheres que ficaram pra sempre em seu coração tricolor, todas elas coloradas.
Com essa sina, nunca teve a felicidade de entrar num estádio agarrado a uma mulher vestindo o manto sagrado do Grêmio. Algumas até iam com ele no estádio, mas sempre vestindo uma cor neutra.

Isso devia ser praga das mulheres da sua família, que eram todas coloradas. Mãe, irmã, tias, primas, vós, todas irremediavelmente coloradas. Os homens, ao contrario, todos gremistas. Todos.
Lógico que, sendo assim, casou com uma... colorada! As duas filhas que teve viraram... coloradas! Não adiantou levá-las no templo sagrado do Imortal Tricolor, o Olímpico Monumental, quando pequenas.
A isso conformou-se facilmente, pois, até, já estava acostumado. Sina é sina, destino é destino.
E, falando nesse, o tempo foi passando. Passando. Passando...

Lá esta ele, cinqüentão, e as filhas na idade aquela em que você já sabe que, de consumidor, passou a virar fornecedor de mulher para as aves de rapina mais jovens do seu mesmo sexo.
Tudo bem, faz parte né, fazer o que. É a lei da natureza, da bíblia (amai-vos e multiplicai-vos).
Um dia chega a Rafaela com seu namoradinho para apresentar. O primeiro namorado de uma filha, a mais velha, que aparecia em sua casa.
Mais ridiculamente convencional impossível: bermudão ridículo, meia cano curto ridícula, boné ridículo com aba ridícula ridiculamente para trás e camiseta regata ridícula.
“Mas peraí, o que é aquele símbolo ridículo naquela camisa ridícula ridiculamente pequeno? Deixa eu pegar os meus óculos para ver...”
- Não, um colorado!!!!
- Pai!?!?!
- Pai uma bosta! Some daqui sua porcaria de guri!
- Que isso senhor?
Bom, embora cinqüentão, ainda estava em plena forma em toda a altura dos seus 1,90 m de puro lutador de boxe amador. O "porcaria de guri" não esperou pra ver o que aconteceria ou estabelecer qualquer tipo de diálogo, deu no pé ao ver Juarez levantar e ir pra cima dele (aliás, seu nome era uma homenagem do pai ao grande centroavante gremista dos anos 50 e 60, Juarez, o "Tanque", que destrocou o famoso Rolo Compressor colorado).
Filha chorando, mulher recriminando, outra filha assustada.
- Não quero saber de namorado colorado, de marido colorado, de neto colorado! Macho aqui nesta família tem que ser gremista que nem eu!
“Ora bolas, até para as sinas tem de haver limite meus Deus. Isso eu não vou aceitar, de jeito nenhum! Não vou criar filha pra dar para colorado, de jeito nenhum! Ou o jovem gavião é da mesma espécie e cor que a minha, ou sairá de bico quebrado e asa partida. Não vou permitir máculas na minha descendência! Não admito! Não verei saci de gorro vermelho na minha linhagem enquanto viver!”
E assim foi e continua sendo ate hoje.
Ou tem algum saci por aí querendo encarar o tanque?

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